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Poemas de Machado de Assis

 

A Carolina

 

Querida! Ao pé do leito derradeiro,

em que descansas desta longa vida,

aqui venho e virei, pobre querida,

trazer-te o coração de companheiro.

 

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro que,

a despeito de toda a humana lida,

fez a nossa existência apetecida

e num recanto pôs um mundo inteiro...

 

Trago-te flores, -restos arrancados da terra

que nos viu passar unidos

e ora mortos nos deixa e separados;

que eu, se tenho, nos olhos malferidos,

pensamentos de vida formulados,

são pensamentos idos e vividos.

Erro

Erro é teu. Amei-te um dia

Com esse amor passageiro

Que nasce na fantasia

E não chega ao coração;

Não foi amor, foi apenas

Uma ligeira impressão;

Um querer indiferente,

Em tua presença, vivo,

Morto, se estavas ausente,

E se ora me vês esquivo,

Se, como outrora, não vês

meus incensos de poeta

Ir eu queimar a teus pés.

É que, - como obra de um dia,

Passou-me essa fantasia.

Para eu amar-te devias

Outra ser e não como eras.

Tuas frívolas quimeras, 

Teu vão amor de ti mesma, 

Essa pêndula gelada

Que chamavas coração, 

Eram bem fracos liames

Para que a alma enamorada

Me conseguissem prender;

Foram baldados tentames, 

Saiu contra ti o azar, 

E embora pouca, perdeste

A glória de me arrastar

Ao teu carro... Vãs quimeras!

Para eu amar-te devias

Outra ser e não como eras...

( Crisálidas - 1864)

Epitáfio do México

 

Dobra o joelho: - é um túmulo.

Embaixo amortalhado

Jaz o cadáver tépido

De um povo aniquilado;

A prece melancólica

Reza-lhe em torno à cruz.

Ante o universo atônito

Abriu-se a estranha liça.

Travou-se a luta férvida 

Da força e da justiça;

Contra a justiça, ó século, 

Venceu a espada e o obus.

Venceu a força indômita; 

Mas a infeliz vencida

A mágoa, a dor, o ódio,

Na face envilecida

Cuspiu-lhe. E a eterna mácula

Seus louros murchará 

E quando a voz fatídica 

Da santa liberdade 

vier em dias prósperos 

Clamar à humanidade,

Então revivo o México

Da campa surgirá. 

(Crisálidas - 1864)

 

O verme 

Existe uma flor que encerra

Celeste orvalho e perfume.

Plantou-a em fecundada terra

Mão benéfica de um nume.

Um verme asqueroso e feio,

Gerado em lodo mortal,

Busca esta flor virginal

E vai dormir-lhe no seio.

Morde, sangra, rasga e mina,

Suga-lhe a vida e o alento;

A flor o cálix inclina;

As folhas, leva-as o vento.

Depois, nem resta o perfume

Nos ares da solidão...

Esta flor é o coração,

Aquele verme o ciúme.

(Falenas - 1870)

Mix - Frases

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Machado-de-Assis-Memorias-Postumas-de-Brás-Cubas-Dom-Casmurro-Memorial-de-Aires-Frases-ida-e-obra-pa

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