top of page

Poemas de Cora Coralina 

 

- ANINHA E SUAS PEDRAS

 

“Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha um poema.

E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede.”

 

MÃE

 

“Renovadora e reveladora do mundo

A humanidade se renova no teu ventre.

Cria teus filhos, não os entregues à creche.

Creche é fria, impessoal.

“Nunca será um lar para teu filho.

Ele, pequenino, precisa de ti.

Não o desligues da tua força maternal.

Que pretendes, mulher?

Independência, igualdade de condições…

Empregos fora do lar?

És superior àqueles que procuras imitar.

Tens o dom divino de ser mãe Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.

Serás um animal somente de prazer e às vezes nem mais isso.

Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.

Tumultuada, fingindo ser o que não és. Roendo o teu osso negro da amargura.”

 

- EU VOLTAREI

 

“Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho, servidor do próximo, honesto e simples, de pensamentos limpos.

Seremos padeiros e teremos padarias.

Muitos filhos à nossa volta.

Cada nascer de um filho será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.

A árvore de Paulo, a árvore de Manoel, a árvore de Ruth, a árvore de Roseta. Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.

Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas, teremos uma fazenda e um Horto Florestal.

Plantaremos o mogno, o jacarandá, o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.

Plantarei árvores para as gerações futuras.

Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.

Terão moinhos e serrarias e panificadoras.

Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens e mulheres, ligados profundamente ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.

E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.

Eu voltarei…

A pedra do meu túmulo será enfeitada de espigas de trigo e cereais quebrados minha oferta póstuma às formigas que têm suas casinhas subterra e aos pássaros cantores que têm seus ninhos nas altas e floridas frondes.

Eu voltarei…”

 

- MEU DESTINO

 

“Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos Passavas com o fardo da vida...

Corri ao teu encontro.

Sorri.

Falamos.

Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos juntos pela vida...”

 

- POEMA DE CORA CORALINA

 

Não sei... se a vida é curta
ou longa demais para nós, 
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido, 
se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe, 
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar...

 

- ASSIM EU VEJO A VIDA

 

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

© 2023 por Cabine Poética & Litere-se. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page